O Distrito Federal teve, em 2022, a menor mortalidade por tuberculose do Brasil. Dados do Ministério da Saúde (MS) apontam uma taxa de 0,9 óbitos anuais a cada 100 mil habitantes. A média nacional é de 2,71. Em números absolutos, foram 18 óbitos na capital em 2022 e 12 em 2023, com dados até o fim de novembro.
Por trás do resultado positivo, está uma rede de atenção capaz de atender desde os casos considerados mais simples até os mais complexos: as 175 unidades básicas de saúde (UBSs) estão preparadas para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento. Já os casos graves são encaminhados ao Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin).
A gerente de Vigilância das Doenças Transmissíveis da Secretaria de Saúde (SES-DF), Kenia de Oliveira, alerta para a importância dos serviços de diagnóstico e de tratamento, especialmente se iniciados com antecedência. “O número de casos pode aumentar se os indivíduos infectados não forem devidamente diagnosticados, tratados e acompanhados, por isso a relevância da identificação dos sintomas e das populações de maior risco”, explica.
Os principais sinais são tosse seca ou com secreção por mais de três semanas – há possibilidade de tosse com pus ou sangue. Cansaço excessivo, febre baixa, suor noturno, falta de apetite, emagrecimento e rouquidão são outros sintomas prováveis. A orientação é buscar a rede de UBSs para fazer uma avaliação e, se necessário, o “teste do escarro”, uma das técnicas de confirmação do diagnóstico e definir o melhor caminho.
Como tratar?
O tratamento costuma ser longo: são seis meses tomando cerca de quatro comprimidos por dia, algumas vezes com efeitos colaterais como dor abdominal, náuseas, formigamento nos pés e alterações no humor. Porém, como o quadro geral do paciente melhora significativamente já nas primeiras semanas, o abandono da medicação é um dos maiores desafios no enfrentamento à doença.
“Depois de interromper o tratamento, a pessoa vai ficar alguns meses se sentindo bem, mas quando a doença volta, em geral volta pior que da primeira vez. E, às vezes, nesse retorno, o sucesso terapêutico é bem menor”, alerta a médica infectologista Denise Arakaki, do Cedin.
O centro atende pacientes mais graves infectados com a tuberculose, incluindo os que abandonaram o tratamento e apresentaram retorno da doença, aqueles em quem os exames apontam para a ineficácia das medicações padronizadas e portadores de doenças que afetam o sistema imune, como é o caso da Aids. “Cerca de um terço dos casos de mortes de quem tem HIV [sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana] é causado pela tuberculose”, acrescenta a infectologista.
Além de ser mais vulnerável e necessitar de um acompanhamento complexo, a população com HIV apresenta 19 vezes mais chances de adoecimento por tuberculose que as pessoas em geral, conforme dados compilados pelo MS. Entre a população privada de liberdade, a possibilidade de desenvolver a doença é 32 vezes maior que quando comparada ao restante da sociedade. Já a população em situação de rua apresenta 54 vezes mais chances.
Entre a população em geral, destacam-se os condicionantes sociais. Quem mora, estuda ou trabalha em ambientes com grande número de pessoas no mesmo espaço, pouca ventilação e baixa iluminação natural tem mais chances de ser infectado. Em geral, não há riscos de transmissão em espaços onde se passa um tempo limitado, como no transporte público ou em um cinema, por exemplo.
No DF, a SES-DF também faz diagnósticos de tuberculose entre pacientes que vão fazer ou estão em tratamentos que reduzem a capacidade do sistema imunológico, como a quimioterapia.
Aumento no número de casos
Apesar do indicador abaixo da média, o número de registros de tuberculose tem subido no DF. Em 2021, foram 383 casos; em 2022, 431, e até o final de novembro, 495 casos confirmados. Porém, os especialistas apontam que isso pode significar uma situação melhor do que a fase mais aguda da pandemia, quando serviços de saúde foram afetados e havia a possibilidade de pessoas infectadas não terem diagnóstico.
Os dados atuais mostram um retorno a números próximos aos vistos antes da pandemia, o que permite uma maior quantidade de pessoas em tratamento. “Com o coronavírus, a população sintomática respiratória tem buscado mais o serviço de saúde, o que possibilita a investigação de outras doenças, como a tuberculose, principalmente quando há uma negativa no diagnóstico de covid-19”, detalha Oliveira.
Detectar e iniciar o tratamento é fundamental, inclusive, para proteger as populações mais vulneráveis. “Quando tratamos quem está doente, interrompemos a cadeia de transmissão”, completa Denise Arakaki.
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