A pouco mais de dois anos das eleições gerais — quando são escolhidos presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais — as eleições municipais, que escolherão os novos prefeitos e vereadores por todo o Brasil, deverão ser um termômetro para o país. A única unidade da federação aonde os eleitores não vão às urnas é o Distrito Federal, o que não significa que os políticos e votantes da capital federal estão inertes ao que acontece nos municípios do Entorno.
Uma prova disso é o movimento de eleitores que transferem seus títulos para outros municípios, com o objetivo de encorpar candidaturas de vereadores e prefeitos, em especial, do Entorno do DF — formado por 33 municípios de Goiás e Minas Gerais —, onde boa parte das pessoas que trabalham na capital mora ou têm familiares.
O movimento migratório de títulos eleitorais é uma constante no Distrito Federal. Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), entre 2022 e 2024, período entra as eleições gerais e as municipais, 74.806 eleitores transferiram seus títulos do DF para outras unidades de Federação. Outros 22.052, no mesmo período, trouxeram para a capital suas volantes eleitorais.
Os dados apontam que as idas e vindas de eleitores, que transferem seus títulos, têm aumentado cada vez mais, e funcionam como um pêndulo, a depender da eleição que está sendo disputada.
Entre 2020 e 2022, entraram 61.581 novos eleitores no Distrito Federal vindos de outras unidades da Federação, segundo dados do TRE-DF, para a escolha de presidente e governador, além dos representantes do parlamento local e federal. No mesmo biênio, deixaram as zonas eleitorais do DF 58.978 títulos de eleitor rumo a outros estados.
No biênio 2018-2020, que também elegeu representantes municipais, saíram da capital federal para votar em outros estados 41.408 eleitores e entraram 38.514.
Para o advogado e analista político Melillo Dinis, o pêndulo de eleitores possui ao menos três fatores: o primeiro diz respeito às idas e vindas populacionais, que ocorrem por conta da centralidade do Distrito Federal; o segundo ponto está ligado ao fisiologismo eleitoral; e terceiro são os interesses partidários.
“Esses interesses se retroalimentam e tem duas situações: o fortalecimento do partido e a exploração do eleitor. Essa é uma marca de Brasília”, afirma o analista. “Tem muito do toma lá da cá. ‘O que ou quanto vou receber’, o que também é uma marca da política brasileira.”
Apoio distrital
Apesar de não haver eleições no Distrito Federal, muitos políticos locais participam das campanhas de vereadores e prefeitos. Alguns por afinidade com pautas e outros por questões partidárias.
Em seu segundo mandato, o deputado distrital Jorge Vianna (PSD) afirma que a situação política do Entorno é muito importante para políticas do próprio Distrito Federal, uma vez que uma parcela dos serviços prestados aqui é demandada por pessoas residentes nos municípios que circundam a capital do país. “Quando tem um prefeito que não investe em saúde, por exemplo, a população dessas cidades precisa buscar atendimento aqui, aumentando a demanda. Isso tem um forte impacto no DF, assim como ocorre, também com a educação e a segurança”, pontua o parlamentar. “Infelizmente, muito político do DF não conhece a realidade dessas regiões do Entorno, e não se interessa em ajudar.”
Outro distrital que se dedica a cooperar com as eleições do Entorno e o deputado Pepa (PP). Em seu primeiro mandato, o parlamentar ressalta que é necessário apoiar candidatos aliados da região do Entorno, com o objetivo de facilitar o diálogo. “Um alinhamento mais próximo ajuda em políticas conjuntas. O transporte, por exemplo. Uma grande parte dos eleitores que moram nessas regiões, vem para Brasília. Então, essa proximidade com o Entorno ajuda a atender as reinvindicações de melhorias”, explica o deputado, que atuará em três municípios.
O vice-presidente da Câmara Legislativa Ricardo Vale (PT) também afirma que vai trabalhar por candidaturas na região metropolitana, mas ainda aguarda a decisão do partido sobre quais serão os candidatos. “Estamos esperando acabarem as convenções partidárias para saber quem serão os candidatos a vereadores e a prefeitos. Nós iremos abraçá-los enquanto partido e enquanto mandato. Só estamos esperando acabar esse momento para ajudar os candidatos de esquerda e do campo democrático.”
Melilo Dinis explica que é importante que exista o interesse dos governantes e políticos locais em relação aos representantes populares, que estarão na disputa no Entorno. “Creio que a relação entre a região metropolitana e o Distrito Federal é umbilical. Elas têm muita dependência uma da outra. Na saúde, por exemplo, os municípios são muito dependentes. O mesmo acontece com o transporte, pois os trabalhadores de lá vem para cá”, analisa. “A mobilidade, por outro lado, deveria ser compartilhada, pois o Entorno está ligado ao DF.”
Apoio e desilusão
O deputado Pepa, em seu primeiro mandato, conta que um dos motivos para que ele apoie candidatos a prefeito e vereador do Entorno são as ligações partidárias, e o pedido da presidente do Progressista no DF, a vice-governadora Celina Leão, além de retribuições políticas, por ajuda recebida durante a sua própria eleição para a Câmara Legislativa, em 2022.
“A presença de um deputado na campanha de candidatos reforça a credibilidade daquela candidatura. Eles avaliam que nossa presença é importante, que faz a diferença. Então, se eles fazem tanta questão, é porque em alguma coisa a nossa participação influencia”, aponta Pepa.
Jorge Vianna, por sua vez, tem uma visão diferente do colega de Legislativo distrital. Em seu segundo mandato, o parlamentar do PSD conta que seu apoio está mais alinhado com bandeiras dos candidatos e não apenas por ligações partidárias.
“Nem sempre temos o apoio dos candidatos que ajudamos. Prefiro apoiar sem pedir nada em troca, pois, depois de eleito, eles começam a ter convívio com outros políticos e não se fidelizam, principalmente quando são de outros partidos, mesmo quando esses não os tenham ajudado durante a campanha. Isso já aconteceu comigo com vários prefeitos e vereadores”, lamenta Jorge Vianna, que completa: “É por isso que os políticos de Brasília, muitas vezes, não interferem, pois é um gasto de energia”. Segundo o distrital, o PSD não proibirá apoio a candidatos de outras siglas. “É preciso apenas bom senso.”
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