O ataque em uma escola pública de São Sebastião colocou em alerta as autoridades e preocupou pais e equipe pedagógica. Minutos depois de o sinal tocar para a entrada dos alunos, um adolescente de 15 anos, armado com duas facas estilo “peixeira”, feriu três colegas, uma monitora e um professor. Ele foi apreendido em flagrante pela Polícia Militar (PMDF). Na delegacia, confessou o crime e disse sofrer bullying há mais de um ano.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) lamentou o episódio. “É com profunda preocupação que recebo a notícia do ocorrido no Centro Educacional São José, em São Sebastião. A segurança e o bem-estar dos estudantes são prioridades absolutas do nosso governo”, escreveu o governador, em suas redes sociais. “Trabalharemos junto com as autoridades competentes para garantir a prevenção de futuros incidentes”, completou.
- Aluno escreveu carta com pedido de desculpas antes de esfaquear colegas
- Adolescente que esfaqueou alunos em escola usava máscara, boné e luvas
- Estudante que esfaqueou quatro pessoas em escola depõe à Polícia Civil
Em nota, a Secretaria de Educação (SEEDF) afirmou que atua em diversas frentes para solucionar o problema da violência escolar. No portão da unidade de ensino, foram colocados comunicados suspendendo as aulas de segunda-feira (4/3) — manhã e noite — e terça-feira (5/3) — manhã e tarde.
Como em mais um dia comum, o sinal tocou por volta das 7h. Como regra institucional, os alunos não podem entrar de boné, mas o adolescente guardou o objeto na mochila, com as facas, foi ao banheiro e colocou novamente o acessório, uma máscara facial preta e luvas pretas de lã.
Antes de começar a aula, enquanto os alunos estavam sentados, o menor invadiu a sala as com duas facas em mãos e partiu para cima de três colegas. Uma das estudantes atingidas, sentada na primeira fileira, estava grávida. Ela só não teve ferimentos graves porque estava com um casaco de tecido reforçado. Um outro menino, de 15 anos, sofreu um corte no pescoço. O terceiro foi ferido na região da omoplata direita. Os três foram socorridos ao hospital com lesões leves.
O Correio viu as imagens das câmeras de segurança que mostram a ação violenta. Em questão de segundos, ele esfaqueia os três adolescentes, enquanto o restante da turma foge correndo. Para contê-lo, um professor pega uma cadeira para encurralá-lo contra a parede. O docente se fere, mas, mesmo assim, não desiste. O estudante só se rende depois que a coordenadora reage com cabo de vassoura, sem atingi-lo.
Os funcionários trancaram o adolescente na sala e chamaram a polícia. “A PM chegou a tempo, e as equipes fizeram a negociação para a rendição. Nós temos um protocolo de segurança em todas as escolas do DF. São viaturas e PMs que fazem ronda ostensiva nos arredores dos colégios. Além disso, todos os diretores têm o contato direto dos policiais do batalhão. Temos avançado no trabalho de prevenção junto a professores, diretores e funcionários”, afirmou o major Michello Bueno, porta-voz da PM.
Na mochila do estudante, os policiais encontraram uma carta pedindo desculpas pelo ataque. O manuscrito foi apreendido e será analisado pela perícia.
Durante o interrogatório prestado na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), o menor confessou o crime. Ele disse que era constantemente xingado e humilhado por colegas da própria turma e mais velhos do que ele na escola por causa da aparência. “Foi um fato totalmente atípico. Ele era um garoto introspectivo, não tinha diagnóstico nenhum de traços violentos, nem ocorrências criminais. Um menino de família estruturada, mas ele nunca comentou nada aos parentes”, afirmou Marcos Akaoni, advogado que representa a família do menor.
“Ele deu alguns detalhes sobre os episódios. Era chamado de apelidos pejorativos por ser muito magro e ter a boca grande. Disse, então, que estava se enchendo de raiva”, contou o advogado. Ainda segundo o defensor, o jovem não tem histórico criminal e nem de briga na escola.
A família do adolescente pediu perdão aos parentes das vítimas atingidas. Ontem, o menor ficou apreendido na DCA e passará por uma audiência nesta terça-feira (5/3).
Medo
Ao Correio, um dos três jovens feridos afirmou que não conhece o agressor. Com ferimentos nas mãos, no pescoço e nas costas, o adolescente, também de 15 anos, foi atendido pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF), que chegou ao local às 7h20, logo após a Polícia Militar. “Meu filho me ligou e fui correndo para a escola buscá-lo”, explicou o pai do aluno. “Antigamente, tinha polícia no colégio. Deveria voltar a ter policiais na escola para cuidar dos nossos adolescentes e das crianças ou, pelo menos, algum verificador de metal”, opinou. A mãe da vítima disse que estava despedaçada. “Nós entregamos nossos filhos na escola para aprender e há esse descaso com a segurança deles”, desabafou. Os pais e o filho prestaram esclarecimentos na DCA ainda pela manhã.
Uma parente do jovem infrator reforçou que, mais do que policiais, as escolas necessitam de psicólogos para os estudantes e a comunidade escolar. “As crianças, os adolescentes e os pais precisam de apoio psicológico. As escolas estão cheias, lotadas, e não há apoio suficiente”, declarou.
Em frente ao centro educacional, estudantes iam e vinham buscando informações sobre as aulas. A jovem Karen Ferreira Gonçalves, 22 anos, acompanhou sua irmã de 12 anos em busca de notícias. “Ela me ligou. Fui correndo buscá-la e os primos na escola. Ninguém da coordenação me avisou nada”, relatou. A jovem do 7º ano disse ao Correio que todos os alunos foram encaminhados para a quadra, mas sem saber o que estava acontecendo. “Estou com medo de vir para aula amanhã”, confidenciou.
“Mesmo que tivesse aula, eu não viria. Fiquei com medo”, adiantou outro estudante, da mesma idade e cursando o sétimo ano.
Cultura de paz
A Secretaria de Educação se manifestou por meio de nota. “Repudiamos qualquer forma de violência, dentro ou fora da escola, e reforçamos o compromisso e o empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como o suporte aos envolvidos, para garantir a segurança e integridade da comunidade escolar”, destacou.
A secretaria frisou que, para combater ataques como esses, promove ações educativas diretas voltadas para a saúde mental e prevenção ao bullying nas escolas direcionadas à comunidade estudantil e ao preparo dos profissionais de educação. O “Guia de Valorização da Vida”, por exemplo, é um documento que visa orientar os educadores acerca das melhores práticas condizentes ao cuidado da saúde mental. Além disso, a secretaria conta com o “Caderno Orientador — Convivência Escolar e Cultura de Paz”, um manual que aborda as temáticas em questão, sendo suporte aos professores, gestores e demais profissionais da educação.
Outras formas são a realização de encaminhamentos de estudantes com demandas de saúde mental ou com dificuldades no desenvolvimento e aprendizagem; a orientação educacional, em parceria com pedagogos e psicólogos escolares do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem (SEAA), atua na prevenção, acolhimento, intervenção educacional e acompanhamento das situações relacionadas à violência escolar.
“A SEEDF ainda instituiu a Comissão Permanente Pela Paz nas Escolas (CPPE), empenhada na execução e implementação das políticas públicas de cultura da paz no ambiente escolar, e, em continuidade aos trabalhos realizados em 2022, implementados pelo Plano de Urgência pela Paz nas Unidades Escolares, instituiu, em abril de 2023, a Comissão Permanente pela Paz nas Escolas (CPPE)”, enfatizou o órgão.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) afirmou que, no DF, uma série de medidas preventivas foi implementada para aumentar a presença do Estado nas imediações de unidades de ensino e prover uma resposta rápida em casos de emergência, com o objetivo de garantir a tranquilidade e o pleno funcionamento das escolas.
O Batalhão de Policiamento Escolar (BPEsc) assinalou que os diretores das escolas públicas do DF recebem, desde o ano passado, orientações relativas à prevenção e ao enfrentamento de situações de violência no espaço escolar. Destacou, ainda, que sua missão é fazer o policiamento ostensivo nas unidades de ensino, atuando de forma preventiva, comunitária e repressiva no perímetro escolar e no interior das escolas, quando necessário. “Para garantir a segurança no ambiente escolar, são observados protocolos estabelecidos a partir de critérios técnicos e de análise de incidência de crimes, contravenções e atos infracionais no perímetro escolar e nas instituições de ensino”, ressaltou.
As atividades operacionais são realizadas por meio de roteiros de patrulhamento ostensivo, operações de varredura, blitz, bloqueio escolar e visitas técnicas nas escolas públicas e privadas de todo o Distrito Federal, entre outras ações. Além disso, de acordo com o batalhão, é feito o redirecionamento de pontos de observação e blitzes, que fazem parte da rotina de trabalho do Detran-DF e do Corpo de Bombeiros, para as proximidades das instituições de ensino.
Memória
Relembre episódios envolvendo violência no ambiente escolar ou nas proximidades
18/3/2022
Um adolescente de 16 anos foi apreendido após participar de uma briga em uma escola de Ceilândia Sul, que resultou no esfaqueamento de um jovem de 17 anos. A vítima ficou em estado grave. O agressor tinha passagem por porte ilegal de arma de fogo e estava em liberdade assistida.
23/3/2022
Uma menina de 14 anos foi esfaqueada por um colega de 15 em uma escola de São Sebastião. Alunos que testemunharam a agressão disseram que a estudante foi atacada pelas costas, na quadra de esportes, enquanto bebia água.
20/3/2023
A PM apreendeu um adolescente de 14 anos suspeito de planejar assassinatos em uma escola de Santa Maria. Ele divulgou os planos em uma rede social e pretendia usar uma arma, que também foi apreendida. À época, a DCA afirmou que ele não pretendia cometer o crime e fez a publicação nas redes para se exibir.
13/11/2023
Um garoto de 15 anos que apresenta quadro clínico no espectro autista foi agredido enquanto ia para a escola, no Guará. O adolescente sofreu lesões no rosto, um ferimento na mão e perdeu dois dentes. Ele foi abordado perto da instituição de ensino.
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